Histórias de Menina

Wednesday, February 09, 2005

Primeiro Amor

Foi na escolinha que ela descobriu que podia sentir algo especial por apenas um dos meninos. Descobriu finalmente o que era esse tal de amor que tanto se fala, e que sentia isso por Juninho. Sim, ela tinha somente 5 anos, mas seu coração já tinha descoberto para que servia...
Foi também nessa época que ela descobriu que tinha dificuldade para expressar o que sentia. Jamais ia conseguir dizer para Juninho que queria namorá-lo, apesar de sentir que na escola, também era sua favorita. Tomou então uma decisão radical, porque algo precisava ser feito. Ela descobriu que Juninho era filho do Lixeiro da praça, e não teve dúvidas ao elaborar o plano mais perfeito: Ela ainda não sabia escrever, mas sabia desenhar seu nome. Aprendeu, com a ajuda de sua mãe, a desenhar o nome de Juninho. Então, em um pedaço de papel que ela cuidadosamente coloriu, ela desenhou seu nome, um coração, e o nome de Juninho. Que mensagem mais clara! Como ela não havia pensado nisso antes?! Era só abandonar esse papel na praça, que o pai de Juninho o veria, entregaria para o menino, e ele ficaria sabendo dos sentimentos dela, sem que ela tivesse que dizer nada! Era perfeito! E assim o fez.
Esperou meses, sem que nada acontecesse. Para ela, era impossível que o pai do menino tivesse simplesmente jogado o papel fora. Ela tinha certeza que o menino tinha visto o papel, e decidido que não gostava dela.... Sua primeira frustração...
E só o primeiro dos planos mirabolantes que nunca funcionaram.....

Sunday, February 06, 2005

Descobrindo

Com quase cinco anos entrou na escolinha do vilarejo, seu primeiro contato com a atividade de aprender. Foi um delírio. Apesar de não ser exatamente a melhor escola do mundo (já que era a única do vilarejo), e não ter séries propriamente, juntando crianças de 3 a 6 anos no mesmo ambiente, foi quando ela descobriu que possuía uma sede incontrolável por conhecimento. Era uma das poucas crianças que não chorava na entrada, e a única que chorava na saída.... Deixava sua mãe louca nos finais de semana, querendo ir para a escola. Deixava sua professora louca durante a semana, com perguntas que ela já não conseguia responder.
Foi também na escolinha que descobriu que definitivamente não gostava de coisas de menina. Brincar de chá com a professora era uma coisa extremamente chata para ela. Ela preferia correr com os meninos, subir nas árvores, brincar de pique-pega, esconde-esconde.... Sua favorita era a brincadeira do castelo. Juninho era seu príncipe, que vinha resgatá-la do bruxo malvado. Mas não se engane. Nessas brincadeiras Juninho sempre era capturado pelos cavaleiros do mal, e depois de ser resgatada da Torre ela sempre pegava seu cavalo, e o salvava também.... Digamos que ela nunca foi uma princesa normal....

Saturday, February 05, 2005

A Gangue

Ela nunca foi uma menina geniosa, mandona ou autoritária. Mas era aquele tipo que inspirava liderança por ser sempre tão segura em tudo que fazia, e para suas irmãs isso era suficiente. Ela que inventava as brincadeiras, decidia o que ia ser feito, escolhia os papéis e decidia quando acabava. Sempre. Seus pais nunca permitiram que elas saíssem de casa para brincar com ninguém, então todo o contato social que ela fez até poder entrar em uma escola foi com suas irmãs. Ela nunca foi particularmente má com nenhuma delas, mas digamos que, sem querer, a tortura psicológica foi grande. Especialmente para a irmã do meio, que teve que conviver com ela por mais tempo...
Em compensação, sempre foi superprotetora. Todas as vezes que suas irmãs "faziam arte", ela assumia a culpa. Inúmeras vezes se atirou entre sua mãe (ou pai) e as irmãs para impedir que elas apanhassem (e seus pais batiam de verdade, com chinelo de couro, geralmente).
Nunca houve briga séria entre elas, um pouco pela natureza pacífica das meninas, um pouco pelo incentivo de seus pais que nem mesmo permitiam troca de xingamentos, e toda vez que qualquer coisa que chegasse perto de um palavrão fosse dito, tomava-se um tapa na boca (até hoje é muito engraçado vê-las brigando, se chamando de "boba", ou "chata", ou "idiota"). Até hoje ela não consegue dizer palavrões por causa disso. Talvez isso seja uma coisa boa.

Thursday, February 03, 2005

No mundo do faz de conta

Nesse seu novo mundo foi onde aprendeu a ser como é. Ali, entre os cinco limoeiros, a laranjeira, dois pés de café (cujas folhas sempre foram ótimos substitutos para dinheiro), um abacateiro, e sua favorita, a Jaboticabeira, dirigia carros, pilotava aviões, criava famílias de mais de 15 filhos, desbravava os mares, procurava tesouros, e sua aventura favorita, explorava os céus com sua nave espacial ultrapotente. Infelizmente seus pais acreditavam que os únicos brinquedos que meninas deveriam ganhar eram bonecas e bonecos, e por isso ela sempre teve que improvisar todo o resto dos equipamentos necessários a uma imaginação muito muito fértil. Talvez seu pai tivesse mudado de idéia se soubesse quantas vezes ela não iria "modificar" objetos da casa para esses fins nobres.... Ou se ele soubesse por quantos anos a pobre tentou construir uma pipa com galhos de árvore e papel sulfite sem sucesso...
Infelizmente o destino presenteou-a com duas irmãs e nenhum irmão, o que fez com que sua curiosidade pelas "coisas de menino" crescesse ainda mais. Mas sua imaginação sempre foi seu refúgio, e com ela tudo era possível. Com 5 anos já tinha desenvolvido toda uma cidade, a bonecolândia, que ela mesma havia fundado. Sua professora do jardim não sabia o que estava criando quando contou a história do Soldadinho de Chumbo, dizendo que todos os bonecos criavam vida durante a noite. Por muitos anos teve que ouvir sua mãe a xingar a pobre professora todas as noites, quando absolutamente todos os seus bonecos (e de suas irmãs) tinham que ser cuidadosamente deitados nos pés de sua cama, e cobertos para não passar frio...

Tuesday, January 18, 2005

A Mudança

Vinda de uma família conservadora, sua mãe já não podia trabalhar porque tinha se tornado dona de casa, e o salário de taxista de seu pai já não seria o suficiente para manter uma família. Assim, seu pai não pensou duas vezes quando a oportunidade de um emprego melhor apareceu, em uma vilazinha no interior de Minas Gerais. Então, com apenas 3 meses de idade ela foi parar em lugar que certamente poderia ser descrito como o fim do mundo, em uma casinha de dois quartos de uns 25 metros quadrados, cercada de um jardim que viria a ser seu universo durante muito tempo, em um vilarejo de 2 ruas, na época, nem mesmo asfaltadas.

Thursday, December 16, 2004

Nasceu.

Em um dia frio do fim de Maio, ela nasceu. Já entrou no mundo enfrentando problemas que ela mesmo criou, tendo engolido água do parto, e passando alguns dias na incubadora por esse motivo. Mas já nasceu lutadora, e esse foi só o primeiro dos obstáculos que teria que enfrentar. Primeira filha de pais que já não eram tão jovens, se tornou logo a alegria da casa. Um bebê alegre e risonho, que logo provou vir testar os pais quanto a decisão de ter mesmo filhos. Com apenas 3 meses de idade, de alguma forma conseguiu pular de seu berço, que ficava colado à cama de sua mãe, sem que ninguém percebesse. Foi parar então embaixo da cama, onde encontrou uma chupeta que a esperava ali como se soubesse da visita. Dessa forma, em vez de chorar como qualquer bebê o faria, decidiu aproveitar o achado. Certamente sua mãe entrou em pânico ao encontrar o berço vazio e nenhum sinal do bebê. Os quarenta minutos que se passaram até o bebê enjoar da chupeta e começar a chorar certamente deram à sua mãe uma idéia do problema que ela tinha arrumado para si...